*****Se não tiver interesse em spoilers, pare por aqui.*****
Pura enganação...mas uma mentirinha boba e maravilhosa. O livro se revela ao meio em uma jornada incrível pela Guerra Civil Espanhola (1936-1939). Sonia se afeiçoa aos traços belos e elegantes do café El Barril em Granada e não imagina que ao voltar para aquela cidadezinha do interior da Espanha irá conhecer a maior grande história que um dia pôde imaginar.
Victoria Hislop cria um ambiente calmo e aconchegante, você leitor se prende sem a menor vontade de que o livro acabe. Suas passagens sobre a dança e sobre a vida espanhola de muitos anos antes, em alguns momentos se caracteriza rápida e sutil, mas de uma leveza sem igual; em outras vezes é de uma longevidade sem tamanho.
No meio do livro começa sua jornada com a família Ramírez...Descritos um a um, você passa a tentar imaginar a sensualidade e magia exalada por cada membro. E depois de afeiçoados por eles, começa a trilha dos mesmos pela Guerra Civil Espanhola.
Señora Concha Ramírez é uma mulher forte e determinada, disposta a proteger os filhos de tudo que possa fazer mal a qualquer um deles. Apoiada na serenidade e firmeza do marido, ela deixa transparecer seu lado bom e seu amor incondicional que foi capaz de deixar os filhos voarem para mais longe do que vê-los em apuros por perto. Com a Guerra, ela se tornou solitária, triste e despedaçada; mas por ser necessário foi forte até o fim.
Señor Pablo Ramírez era um homem que prezava a boa vida da família, amava sua mulher e cuidaria de seus filhos até o fim, mesmo que de longe. Quando pensei que fosse ver um Pablo mais ativo em toda a história, ele toma para si a autoria de um "crime" (Ouvir uma rádio republicana) para defender a mãe de seus filhos.
Antonio Ramírez, um homem nobre e de conceitos justos. Com espírito reservado e amigos tão quietos como ele, Antonio reserva uma boa dose de coragem e desejo de justiça para a parte em que a Guerra é descrita. Derramei lágrimas ao ler a morte de Fancisco e de Salvador. Ele que sempre foi tão forte e protetor, não conseguiu livrar seus amigos do fogo inimigo.
Ignacio Ramírez, lindo, corajoso, majestoso, preconceituoso e de direita. A sensualidade passada pelas palavras que descreviam Ignacio são embriagantes. Apesar de ter raiva dos seus rompantes contra os irmãos e ele apoiar fielmente Franco, eu não desejava que ele morresse de tal forma tão triste e angustiante. Mas como a própria autora falou, seu rosto permaneceu intacto e seu funeral foi tão belo quanto ele fora um dia.
Emílio Ramírez...apesar de pouca ação, me afeiçoei pelo garoto simples, tímido, tristonho e homossexual. Um apaixonado pela música, preso de forma tão brutal que não deseja-se que nenhuma mãe presencie. Fiquei pensando o quanto o preconceito ainda era maior do que o respeito em 1936... Não é a toa que as memórias da Guerra dizem que muitos homossexuais foram presos, apenas pela sua opção sexual. Um grande exemplo de "eliminação" aos homossexuais foi a execução fria de Frederico Garcia Lorca, um dos maiores poetas que a Espanha já viu.
"A morte de Lorca foi um marco no conflito.
Qualquer resíduo de crença em probidade
e justiça que ainda existisse fora destruído.
Em toda a Espanha, as pessoas horrorizaram-se."
Mercedes Ramírez...ah Mercedes... A caçula da família Ramírez era uma menina/mulher feliz, amava os pais, os irmãos, a forma carinhosa de sua relação com Emílio e depois com Antonio... e por fim, uma AMANTE sensacional da dança e da música e de toda as sensações que elas podiam lhe proporcionar. Junto a Javier ela me proporcionou uma das maiores sensações de entrosamento e amor correspondido, mesmo que eles não tenham vivido tudo que o amor pede.
"Segurou a mão dela com força e então,
num gesto que ele próprio achou uma loucura,
levou-a aos lábios e beijou não o dorso, mas a palma da mão dela.
Mesmo para alguém que fora para a cama com dezenas de mulheres,
era uma atitude de espantosa intimidade."
E assim me apaixonei por toda a história. Uma mistura de dor, alegria, sentimentos, pêsames e tudo mais. A Guerra Civil Espanhola foi um movimento de extrema violência. Franco queria exterminar seu próprio povo. Tinha a intenção de matar todos eles se fosse necessário!!
Franco matou cerca de 500 mil espanhóis com explosões, tiros, metralhadoras, execuções frias, prisões. E além daqueles que morreram, muitos espanhóis se deixaram "morrer" para o resto da vida, sem saber o que fazer dali em diante. Muitos se exilaram em outros países e não voltaram nunca mais.
Esse é mais um capítulo da história da qual eu me envergonho.
Mas o que ficou de bom nesse livro foi o amor de Mercedes e Javier, que foi simples, ingênuo e caloroso!!!
"O amor deles era absolutamente mútuo,
tão igual quanto os focos de luz
que os iluminavam no palco que dividiam.
Quando estavam separados,
ambos contavam meticulosamente os dias
que faltavam para se encontrarem de novo."
Até mais.


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